GRUPO BÍBLICO, A EXPERIÊNCIA DE VIVER A FÉ À LUZ DA PALAVRA DE DEUS
A Palavra de Deus é tão primordial para a vida cristã, que São Jerônimo faz a seguinte afirmação: “Desconhecer as Escrituras é desconhecer Cristo”[1]. Dada a importância da Sagrada Escritura, que juntamente com a Sagrada Tradição constituem um único depósito da Palavra de Deus[2], o Concílio Vaticano II decidiu proporcionar à Igreja uma redescoberta da magnitude da Palavra. Por isso, após um exílio secular, a Sagrada Escritura recebeu a merecida centralidade na vida cotidiana da Igreja: “[…] o sagrado Concílio exorta, de maneira insistente e particular, todos os fiéis, principalmente os religiosos, a que aprendam ‘a sublime ciência de Jesus Cristo’ (Fl 3,8) com a leitura frequente das divinas Escrituras”[3]
Desde então, a Palavra de Deus tornou-se mais presente e notável na vida da Igreja, sendo encontrada, de forma privilegiada, na liturgia, na catequese, nas diversas pastorais, movimentos e serviços, nos encontros de formação, nas famílias, nos momentos de oração pessoal, etc. Neste caminho de redescoberta, os escritos dos Santos Padres da Igreja, grandes intérpretes da Escritura, voltam a figurar na vida eclesial, como também a prática da Lectio Divina (Leitura Orante da Bíblia). Deste modo, todos os batizados, membros da Igreja, são exortados a vivenciar a animação bíblica de toda a vida pastoral, a fim de que o encontro pessoal com Cristo seja realizado na escuta da sua Palavra[4].
Outro lugar privilegiado para encontrar Cristo, na escuta da sua Palavra, é o Grupo Bíblico. Conhecido também como Círculo Bíblico, ou Grupo de Reflexão, o Grupo Bíblico faz parte da redescoberta da Escritura no Brasil, impulsionada pelo Concílio[5]. No atual Plano de Pastoral da Arquidiocese de Porto Velho (2021-2025), o Grupo Bíblico é mencionado numa das diretrizes que têm o propósito de estimular o anúncio da Palavra de Deus: “Criar, acompanhar e ampliar os Grupos Bíblicos, bem como incentivar a Lectio Divina, a fim de que cresça o encontro dos fiéis com a Palavra de Deus, fomentando o espírito comunitário”[6].
O que são os Grupos Bíblicos?
Característicos integrantes da vida das Comunidades, os Grupos Bíblicos são notáveis “grupos de evangelização”, que se encontram para rezar, meditar a Palavra de Deus e refletir sobre a vida das pessoas, da família, da Comunidade e da sociedade, a fim de viver o seguimento a Jesus Cristo, fortalecendo a própria fé (Jo 12, 46) e o compromisso com a vida (Jo 10, 10). É a mesma Comunidade Eclesial em ação evangelizadora que, ao “percorrer as casas”, revive a sua atuação no período primitivo (At 5, 42) e manifesta o seu caráter doméstico (At 12, 12), mostrando-se uma verdadeira “Igreja em saída”[7].
Qual a importância dos Grupos Bíblicos e por que deles participar?
A luz da Palavra de Deus permite a cada pessoa, e ao Grupo Bíblico, a abertura do coração. À luz desta Palavra, os participantes são encorajados a abraçar os compromissos que a vida cristã nos pede, de modo que todos sejam impelidos à transformação da própria vida, da família, da Comunidade e da sociedade. Assim, o Grupo Bíblico intensifica a intimidade com a Palavra de Deus, nutre a fé, aponta caminhos para a reflexão sobre a vida, fortalece os laços de amizade, proporciona espaço para o exercício da escuta, torna oportuna a convivência no amor fraterno, desperta vocações, incentiva a comunhão entre as pastorais, movimentos e serviços e, enfim, acentua a relação fé e vida[8], de maneira que o fiel cristão seja praticante da Palavra, e não apenas ouvinte (Tg 1, 22).
Como ser animador (a) do Grupo Bíblico?
O animador, ou a animadora, do Grupo Bíblico é alguém entusiasmado pela Palavra de Deus e pela Comunidade. Trata-se de uma pessoa que conhece a proposta do Grupo Bíblico e assume a missão de animá-lo na gratuidade e no amor. É alguém que nutre a própria fé na leitura da Sagrada Escritura, sabe viver em Comunidade, é alegre e perseverante, sabe escutar e dialogar, é paciente diante das dificuldades, sabe dar voz e vez a cada participante, e busca a formação permanente nos encontros formativos paroquiais e arquidiocesanos.
Portanto, promover os Grupos Bíblicos e deles participar ativamente é um excelente modo de viver a fé, evangelizar e caminhar em comunhão com a nossa Igreja Arquidiocesana. Deste modo, a Comunidade, que se põe à escuta da Palavra de Deus para proclamá-la como anúncio de salvação, mantém-se fiel à sua missão evangelizadora, “para que o mundo inteiro ouvindo creia, crendo espere, e esperando ame”[9].
Dom Roque Paloschi
Arcebispo de Porto Velho
[1] SÃO JERÔNIMO, Commentariorum in Isaiam libri, Prol.: PL 24, 17.
[2] CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 10.
[3] CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 25.
[4] BENTO XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini, n. 73.
[5] LIBANIO, J.B., Concílio Vaticano II – Em busca de uma primeira compreensão, p. 93.
[6] ARQUIDIOCESE DE PORTO VELHO, Plano de Pastoral Arquidiocesano (2021-2025), n. 64 a.
[7] FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 20-24.
[8] FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 176-258.
[9] CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 1.