Irmãos e Irmãs,
Paz e Bem!
Estamos ainda mergulhados no Tempo Pascal, tempo de grande júbilo. E, todo ano, a Igreja celebra no domingo seguinte à Solenidade da Páscoa do Senhor Ressuscitado, a Festa da Divina Misericórdia instituída por São João Paulo II.
O decreto da Penitenciária Apostólica sobre as indulgências recorda que “com providencial sensibilidade pastoral, o Sumo Pontífice João Paulo II, a fim de infundir profundamente na alma dos fiéis estes preceitos e ensinamentos da fé cristã, movido pela suave consideração do Pai das Misericórdias, quis que o segundo Domingo de Páscoa fosse dedicado a recordar com especial devoção estes dons da graça, atribuindo a esse Domingo a denominação de “Domingo da Misericórdia Divina” (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Decreto Misericors et miserator, 5 de maio de 2000).
As leituras da liturgia deste domingo nos apresentam a comunidade de Homens Novos que nasceu da cruz e da ressurreição de Jesus. Essa comunidade, acompanhada por Jesus ressuscitado, vive e testemunha no mundo a Vida nova de Deus gerada do amor misericordioso da Trindade Santa, pois, a Misericórdia é, com certeza, uma magnífica manifestação do amor do Senhor que poderemos entender melhor ao compreender o significado desta palavra.
Na língua hebraica, a palavra Misericórdia vem da raiz verbal raham e rahamim. O primeiro indica o ventre materno que acolhe e gera amorosamente; e o segundo indica o amor que se curva, que vai ao encontro, que resgata. Ou seja, é o sentimento de misericórdia com que o amor se manifesta concretamente. Já na língua latina, a palavra misericórdia tem origem em dois termos: Miserere que lembra piedade, compaixão; e Cor que remete ao coração, centro das decisões e da vida espiritual.
Observando, portanto, a raiz desta palavra podemos deduzir que é justamente esta profunda e visceral misericórdia que Deus quer oferecer a todos nós, sem excluir ninguém. Ele nos oferece gratuitamente para que, tendo feito a experiência de seu amor misericordioso que acolhe, gera, resgata, perdoa, possamos nós também agir com misericórdia no mundo, como nos diz o Papa Francisco em sua encíclica: “Também depois da ressurreição do Filho de Deus, a Cruz fala e não cessa de falar de Deus Pai, que é absolutamente fiel ao seu eterno amor para com o homem… Crer neste amor significa acreditar na misericórdia” (Dives in misericordia, 7).
Sendo assim, o cristão é chamado a ser sinal do amor, do perdão e da justiça que nascem da misericórdia, como nos mostra o Evangelista João ao partilhar a emoção sentida pelos Apóstolos no encontro com Cristo depois da sua ressurreição. O gesto do Mestre ao mostrar os sinais da paixão em seu corpo, transmite aos discípulos de ontem e de hoje, receosos e admirados, a missão de serem ministros da Misericórdia divina: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós” (Jo 20,21).
Jesus sopra sobre eles e sobre todos nós o Espírito Santo e confia-nos o dom do perdão, dom que brota das feridas do Crucificado-Ressuscitado para nos dizer que, seja qual for a situação, Ele nos diz: “Não temas!”. Assim, meus irmãos e irmãs, quem quiser “ver” e “tocar” Jesus ressuscitado, deve procurá-l’O no meio dessa comunidade que d’Ele nasceu e que d’Ele vive. É no meio da comunidade, principalmente nos irmãos mais abandonados que poderemos fazer a experiência da Ressurreição.
Por fim, desejo me unir aos inúmeros corações orantes espalhados em tantos lugares do mundo que celebraram nestes dias a Novena da Divina Misericórdia e que contribuem com frutos de intenso apostolado e serviços de caridade, frutos de uma espiritualidade autêntica.
Que por intercessão de Santa Faustina Kowalska, neste dia em especial, como em todos os outros momentos de nossas vidas, possamos todos nós, filhos e filhas de Deus, proclamar com nossas vidas as palavras do salmista: “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia” (Sl 117).
Com minha humilde prece,
Dom Roque Paloschi
Bispo da Igreja de Porto Velho-RO